“Não são poucos os casos que vivenciamos na América Latina de enormes violações de direitos humanos e destruição de inteiros ecossistemas por grandes empresas nacionais e transnacionais. Justamente em face dessa história, encontramo-nos atualmente diante de grandes desafios, já que a própria vida tal como a conhecemos está ameaçada em nosso planeta pela expansão sem limites do capital. As mudanças climáticas se fazem ver nesse contexto e as desigualdades se aprofundam. A pandemia da covid-19 também está explicitando todas as contradições envolvendo a contemporaneidade: outras pandemias vieram antes, e aparentemente muito pouco aprendemos sobre nossa relação com a natureza. (…)

 

O que Rafaela propõe neste trabalho é a necessidade, inicialmente, de que cada um desses processos seja visibilizado, denunciado e, então, sejam objetos de mobilização política contra-hegemônica. Pois de nada vale sabermos dos riscos se nada fizermos para evitar e reparar os danos. Para isso, porém, é necessário que os saberes que informem as ações sejam sempre atravessados pelo pluralismo, pela multiplicidade, pela compreensão de que a epistemologia positivista, branca e do norte muito pouco tem a contribuir nesse cenário. Se queremos entender os danos causados pela nova forma do capital, precisamos também aprender com outros saberes tão achincalhados pelo racismo epistemicida: aqueles desenvolvidos ao longo de séculos pelos diferentes povos que habitam a Terra, povos das florestas, dos rios e dos desertos.

 

Desafiar o individualismo e o consumismo, bem como a tentação de nos identificarmos como empresas de nós mesmas diante da ruptura com qualquer traço de solidariedade, mediadas como estamos pelas telas, é uma atitude necessária. Esta obra vem contribuir com esses questionamentos, e certamente é a primeira de muitas que ainda virão.”

 

– do prefácio de Marília De Nardin Budó.